1 de ago. de 2009

CORTAR O CABELO PODE DOER



No último sábado presenciei uma cena, a qual me chamou muito a atenção. Fui ao salão da cabeleireira que costumo freqüentar e já na recepção era possível se ouvir os berros de uma criança, que aos prantos gritava: “Dói, ta doendo”. Pela intensidade e altura do choro e gritos que se ouvia, se não fosse um salão de cabeleireira, tinha todos os componentes, típicos, de um pronto-socorro infantil.

Passei por onde acontecia a cena e pude ver que se tratava de um menino de aproximadamente 5 ou 6 anos de idade, sentado na cadeira da cabeleireira, que com toda calma e paciência, tentava executar o seu trabalho, porém a cada movimento de sua tesoura, o menino gritava: “dói”. Todos os presentes no salão estavam mobilizados e comentavam sobre o menino. O pai que o acompanhava, começou a gritar cada vez mais alto, para que ele parasse de chorar, e como isto não acontecia, alguns pequenos tapas foram dados no filho.

Enquanto eu aguardava para ser atendida, fiquei imaginando o que poderia doer em um corte de cabelo.

A palavra “dói” ficou martelando na minha cabeça e comecei a indagar: Que dor seria aquela? De que ordem? Física? Emocional? Não poderia ser física. O cabelo do menino era curto e, portanto, não dava para ser puxado pelo pente da cabeleireira. Seria dor da contrariedade, de birra, ou da humilhação de estar sendo repreendido e também de apanhar na frente dos outros? Creio que tais respostas eu nunca poderei obter, porém um fato era certo, o menino necessitava berrar, pois queria ser ouvido, não pelo sentido da audição, mas no sentido do afeto. Sua necessidade era a de uma escuta qualificada.

Após um tempo se debatendo na cadeira, o menino foi “libertado” sem terminar o seu corte de cabelo e só parou de soluçar, quando uma auxiliar do salão, com toda paciência e carinho, sentou-se com ele em um canto, longe da visão do pai e por algum tempo ficaram ali juntos. Ela lhe deu balas e conversavam baixinho, ele falava e ela o escutava de uma forma especial. Foi se acalmando e um tempo depois, voltou para perto do pai que terminava seu corte de cabelo e pode ir embora sem chorar, com um ar de satisfação por ter recebido o que tanto desejava: ser de fato ouvido, entendido e compreendido.

Isabel Christina Gonçalves

2 comentários:

Canhenho disse...

Cortei o cabelo de minha filha quando ela tinha um ano e meio, ela chorava compulsivamente, e eu não entendia, pois ela não sabia falar. Lendo esse post, observo que era a mesma dor comentada aqui.
Creio que por isso crescemos com tantos medos e traumas.

Belo blog, edificante.

Unknown disse...

Oi, Canhenho
Só agora vi seu comentário.
Obrigada pela visita. Volte sempre!
Um abraço.