
[...] Olhava minha mãe obliquamente  do outro lado do sofá. Que corrente secreta percorria os nossos pensamentos ao  preenchermos o risco que ela mesma traçara sobre o pano azul, que  pressentimentos, que sensações, que fantasias? Éramos unas naquele momento,  nossas mãos aprisionadas no círculo traçado pelos bastidores, e nosso sangue  familiar também percorria as veias azuis riscadas na fazenda fina. Oh, mãe,  tantos anos são passados, consegui retomar o bordado, e tudo mais se transforma  num imenso vazio, que como esse traçado na fazenda, vou preenchendo com as  figurações por tanto tempo armazenadas na memória, quase esquecidas, agora  despertas e refeitas uma a uma, com a mesma precisão com que recomponho esse  trabalho. (p.4)
                                                                     "O  PENHOAR CHINES" da Rachel Jardim 
Editora José Olympio
Editora José Olympio
 
 
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